"Assim eu me acomodo | Com o que Deus criou | Deus tem diverso modo | Diversos modos sou”.
Fernando Pessoa, Obras, I
"Vivemos um momento das nossas vidas que está pendurado entre extremos. Por um lado, vivemos experiências que nos empurram para um oceano sem margens onde as emoções e o sentir são expandidos e postos à prova. Ouvimos falar do amor a nós mesmos, aos outros, ao mundo, às coisas infinitas e em tudo lhe sentimos tanto a falta como a sua indomável presença.
Do outro lado, vivemos o terror de um fim abrupto, da incompreensão política e económica, dos vexames contra os indivíduos e a humanidade em geral. O que sentimos é que nos falta a educação para poder viver neste mundo surpreendente e ameaçador. As artes são o lugar dos lugares para essa educação que não se toma nas escolas, nas instituições, nas relações sociais em geral. As artes e os artistas são um espaço onde podemos mergulhar e aprender quem somos, o que fazemos aqui e as múltiplas razões porque continuamos diversos e em busca.
Vem este pequeno introito à laia de reflexão sobre mais uma edição do Festival Internacional Acordeões do Mundo. É nestes momentos em que o que se nos apresenta como rotina que devemos suspender o que fazemos por um instante e escutar. A música e o labor de construir emoções são irmãos gémeos. A música é um ser estranho que se aventura por nós dentro e que abre espaços para o sentir que sabemos que já existem, mas não conhecemos as chaves para abrir-lhes a porta. Venham por isso escutar e abrir-se à música e às artes mais uma vez em 2019.
É já a seguir nas Festas da Cidade — nos dois primeiros fins de semana de Novembro."
João Garcia Miguel
